A política e o esporte

17/10/2011 03:18

POLÍTICA E ESPORTE

 

 

Fabio Aires da Cunha

 

 

      Com a socialização e o desenvolvimento dos povos, ocorreu uma evolução nos fatores que compõem esta sociedade moderna. O esporte não poderia ser deixado de lado, pois se constitui num fenômeno e como tal, acompanha e desenvolve-se, de acordo com o contexto que está inserido.

      O objetivo deste artigo é relacionar o esporte com a “evolução” política do mundo, estabelecendo um paralelo entre ambos, apresentando argumentos favoráveis e desfavoráveis ao desenvolvimento do esporte como fenômeno social.

      O primeiro ponto abordado será a divergência política entre os povos. Até alguns anos atrás o mundo era dividido em dois blocos, capitalista e socialista. Os países deveriam se posicionar de um lado ou do outro, chegando a casos extremos de uma cidade ser literalmente dividida por um muro, como o caso de Berlim. Como o esporte estava inserido neste contexto político, acabou passando também por profundas transformações. Com a chamada Guerra Fria, observou-se alguns acontecimentos que poderiam ser classificados como banais, por se realizarem no mundo esportivo, contrariando os preceitos do ideal olímpico e da confraternização mundial. Para ilustrar esses acontecimentos, citamos o caso de boicote dos Estados Unidos e seus aliados aos Jogos Olímpicos de 1980 (Moscou) e em represália, o boicote da antiga URSS e de seus aliados aos Jogos Olímpicos de 1984 (Los Angeles). São fatos inaceitáveis, pois os Jogos Olímpicos, que são o maior acontecimento esportivo internacional, perdeu o seu brilho e foram classificados como jogos políticos, nesse dois casos. Outras situações desse tipo marcaram o triste período da Guerra Fria. A briga entre americanos e soviéticos, era para provar a superioridade do capitalismo sobre o socialismo e vice-versa.

      Com o fim da Guerra Fria e a queda do muro de Berlim, esses acontecimentos políticos pareciam ter acabado, mas a conotação política de superioridade de uma nação sobre a outra, sempre existirá, mesmo que encoberta. Essa propaganda ideológica deturpa muitas vezes o espírito das competições esportivas, caracterizando essa competição como confronto político e não espetáculo como deveria ser.

 

      Outro aspecto que prejudica o brilhantismo do esporte é a utilização em competições de práticas ou propagandas políticas. Um dos fatos mais marcantes foi o movimento Black Power, que tentou por meio do esporte demonstrar a superioridade de uma raça ao mesmo tempo a discriminação racial. Esse acontecimento pode causar uma certa aversão das outras etnias, pois o fator racial suprime o da competição saudável, sem características de revanche ou demonstração de superioridade.

 

      A política interna de um país pode sofrer sanções internacionais, como foi o caso da política de segregação racial na África do Sul. Os africanos foram impedidos de participar dos Jogos Olímpicos, enquanto não adotassem uma política mais democrática. A África do Sul voltou aos Jogos Olímpicos no momento em que o apartheid foi praticamente suprimido de seu país. A atitude de sanção imposta à África do Sul visava acabar com o domínio dos interesses opressores e racistas, a fim de dar oportunidade igual a todos os possíveis atletas.

 

      A busca de um reconhecimento social e uma ascensão política faz com que o esporte seja utilizado de maneira incorreta para alcançar seus objetivos. Os políticos usam do esporte para melhorar sua imagem e os não-políticos usam também do esporte para alcançar a política, ou seja, observa-se muitos casos em que um dirigente utiliza o clube para defender seus interesses, sem pensar obrigatoriamente no benefício do clube e desse esporte em questão.

      Os interesses políticos às vezes atingem proporções absurdas, como é o caso do presidente do Milan, time de futebol da Itália, que foi eleito primeiro ministro da Itália. Certamente o cargo de dirigente de um clube bem sucedido foi utilizado como forma de propaganda política. Apenas um aspecto neste caso deve ser questionado, o Milan e o próprio futebol, ganharam o que com isto?

 

      A Fórmula 1 pode ser considerado um caso a parte, onde o poder político determina muitas vezes o andamento da competição. Os acidentes fatais dos pilotos Ayrton Senna e Roland Hatzenberg no Grande Prêmio de Ímola em 1994, por exemplo, demonstram claramente que os interesses políticos e econômicos atingiram uma gravidade monstruosa e que as vidas de dois pilotos foram simplesmente ignoradas. Será que podemos considerar isso como um esporte, onde a beleza e diversão deveriam estar presentes e não esses interesses escusos?

 

      A conquista esportiva pode ser utilizada como uma maneira de encobrir uma política interna desestruturada e até opressora. Com a conquista do tricampeonato mundial de futebol pelo Brasil em 1970, o governo militar vigente, tentou mascarar a sua política de interesses e extremamente opressora, pois o povo brasileiro amante do futebol, somente tinha olhos para o título conquistado. Mais recentemente o ex-presidente Fernando Collor incentivou a campanha brasileira na Copa do Mundo de 1990, pois caso o Brasil ganhasse a Copa, o brasileiro esqueceria momentaneamente da inflação crescente e dos graves problemas sociais que existiam no país naquela época.

      A conquista da Copa do Mundo, por um país subdesenvolvido, pode ser utilizada pelo governo desse país como uma distração popular, desviando a atenção da opinião pública para a importante conquista a nível esportivo.

 

      No Brasil existe uma “briga” interna com nossas próprias leis. O caso brasileiro não apresenta aspectos internacionais como os da Guerra Fria, nosso esporte afunda na própria política interna ou mesmo a falta dela. No ano de 1993, o Congresso Nacional aprovou a camada “Lei Zico”. Essa emenda constitucional tentou ajudar o desenvolvimento esportivo do Brasil. Alguns itens demonstram a preocupação com a política desorganizada vigente até então. O Estado tem o dever de fornecer prática esportiva para a população (esporte de massa), mas a descentralização é uma característica da nova lei. A permissão de criação de ligas independentes e das equipes se tornarem empresas é outro fator que tenta acabar com a política interna mal estruturada na maioria dos esportes. Anos mais tarde foi aprovada a chamada “Lei Pelé”, que também visava modernizar o futebol e o esporte nacional.

      O grande problema é que praticamente nada mudou de 1993 para cá. Continuamos vendo conchavos políticos, falcatruas e principalmente péssimas administrações. Os clubes de futebol, por exemplo, estão quase todos afundados em dívidas monstruosas. Muitos dirigentes esportivos no Brasil tentam ao máximo conduzir “seu” esporte de maneira que mais lhe convém.

 

      Observa-se que a política e o esporte caminham lado a lado. O esporte sem política não pode ser entendido, e sim se deve pensar num esporte aliado a uma política correta. Deve-se repensar os preceitos a fim de entendermos quais os verdadeiros propósitos das competições esportivas e como a influência da política poderá auxiliar positivamente nas atividades esportivas.

      A grande dúvida que fica é: o esporte é apenas um fenômeno social, artístico e legalmente competitivo ou é uma máquina política que engloba corrupção, interesses pessoais, preconceitos e total mesquinhez?